sexta-feira, 6 de maio de 2011

O papel dos hormônios leptina e grelina na gênese da obesidade

Autoras do artigo: Carla Eduarda Machado ROMERO, e Angelina ZANESCO

Estudos populacionais têm demonstrado que o excesso de tecido adiposo, principalmente na região abdominal, está intimamente relacionado ao risco de desenvolvimento de doença arterial coronária, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e dislipidemias. A maior parte dessas doenças está relacionada à ação do tecido adiposo como órgão endócrino, uma vez que os adipócitos sintetizam diversas substâncias como adiponectina, glicocorticóides, TNFa, hormônios sexuais, interleucina - 6 (IL- 6) e leptina, que atuam no metabolismo e controle de diversos sistemas.

LEPTINA

A leptina é uma proteína produzida principalmente no tecido adiposo.  Seu pico de liberação ocorre durante a noite e às primeiras horas da manhã. É responsável pelo controle da ingestão alimentar, atuando em células neuronais do hipotálamo no sistema nervoso central. Sua ação promove a redução da ingestão alimentar e o aumento do gasto energético, além de regular a função neuroendócrina e o metabolismo da glicose e de gorduras.

Existem dois tipos de receptores para a leptina, o ObRb, com maior expressão no hipotálamo, e ObRa, encontrados em outros órgãos como o pâncreas nas células alfa e gama das ilhotas de Langerhans.

A leptina reduz o apetite a partir da inibição da formação de neuropeptídeos relacionados ao apetite, como o neuropeptídeo Y, e também do aumento da expressão de neuropeptídeos anorexígenos (hormônio estimulante de α-melanócito (α-MSH), hormônio liberador de corticotropina (CRH) e substâncias sintetizadas em resposta à anfetamina e cocaína.

A hiperleptinemia, encontrada em pessoas obesas, é atribuída a alterações no receptor de leptina ou a uma deficiência em seu sistema de transporte na barreira hemato-cefálica, fenômeno denominado resistência à leptina  semelhante ao que ocorre no diabetes mellitus. Friedman & Hallaas verificaram que, em quatro semanas de administração exógena de leptina, tanto em indivíduos eutróficos quanto obesos apresentaram perda significante de peso. Entretanto, essa redução só foi verificada quando os indivíduos não apresentavam hiperleptinemia, pois a administração de leptina em obesos com hiperleptinemia não provocou qualquer alteração no peso corporal destes indivíduos.
A leptina, além de seu importante papel no metabolismo, controla o sistema hematopoiético, o sistema imune, o sistema reprodutor e o sistema cardiovascular.

GRELINA

A grelina é um hormônio produzido no estômago. É um potente estimulador da liberação de GH, nas células somatotróficas da hipófise e do hipotálamo sendo o ligante endógeno para o receptor secretagogo de GH (GHS-R). Além de sua ação como liberador de GH, a grelina possui outras importantes atividades, incluindo estimulação da secreção lactotrófica e corticotrófica, atividade orexígena acoplada ao controle do gasto energético; controle da secreção ácida e da motilidade gástrica, influência sobre a função endócrina pancreática e metabolismo da glicose e ainda ações cardiovasculares e efeitos antiproliferativos em células neoplásicas.
Recentes estudos com roedores sugerem que a grelina, administrada perifericamente ou centralmente, independentemente do GH, diminui a oxidação das gorduras e aumenta a ingestão alimentar e a adiposidade. Assim, esse hormônio parece estar envolvido no estímulo para iniciar uma refeição. Sabe-se ainda que os níveis de grelina são influenciados por mudanças agudas e crônicas no estado nutricional, encontrando-se elevados em estado de anorexia nervosa e reduzidos na obesidade. A grelina está diretamente envolvida na regulação a curto prazo do balanço energético. Níveis circulantes de grelina encontram-se aumentados durante jejum prolongado e em estados de hipoglicemia, e têm sua concentração diminuída após a refeição ou administração intravenosa de glicose.
Achados sugerem que a contribuição da grelina na regulação pós-prandial da alimentação pode diferir dependendo do macronutriente ingerido. Sua concentração plasmática é diminuída após refeições ricas em carboidratos,e aumentada após refeições ricas em proteína animal e lipídeos, associados ao pequeno aumento da insulina plasmática.

Os recentes achados, envolvendo a descoberta da leptina e grelina, abrem novos campos de estudo para o controle da obesidade, principalmente nas áreas de nutrição e metabolismo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário